Comissão Episcopal da Educação
Cristã e Doutrina da Fé
Nota Pastoral para a Semana
Nacional da Educação Cristã
21 - 30 de outubro de 2016
EDUCAR
- PROPOR O CAMINHO PARA UMA VIDA PLENA
A educação integral é essencial
para promover o desenvolvimento harmonioso das pessoas e para alicerçar a
justiça, a paz e o bem-estar das sociedades. Portanto, é pela educação que
podemos preparar um futuro com esperança.
Por isso, educar é uma tarefa
gratificante sem deixar de ser complexa e árdua, nomeadamente no nosso tempo.
Assim o reconhece o Papa Francisco na Exortação “A Alegria do Amor” em que
dedica um capítulo à missão educativa da família (Cap VII: Reforçar a educação
dos filhos).
Perante os desafios da sociedade
atual, o papel dos educadores (pais, encarregados de educação, professores,
catequistas) não pode ser o de controlar ou de resolver todos os problemas mas
“gerar processos de amadurecimento da liberdade dos filhos, de preparação, de
crescimento integral, de cultivo da autêntica autonomia” (AL 261). Deste modo,
“a educação para a maturidade comporta a tarefa de promover liberdades
responsáveis que, nas encruzilhadas, saibam optar com sensatez e inteligência”
(AL 262).
Perante esta emergência da
educação todos temos a missão de colaborar. Em nome da Igreja, apoiados pelo
seu rico património espiritual, humanista e moral, queremos dar o nosso
contributo, apresentando alguns critérios em ordem a educar para o
desenvolvimento pessoal integral e para a participação livre e responsável na
construção de uma sociedade justa e fraterna.
1. Educar é pôr a caminho
Educar é conduzir no caminho do
bem e da verdade, como concretiza Bento XVI de forma feliz: “Educar significa conduzir para fora de si
mesmo ao encontro da realidade, rumo a uma plenitude que faz crescer a pessoa”
(Mensagem do dia da paz, 1 de janeiro de 2012, 2).
Deste modo, educar não é apenas
atingir uma determinada etapa ou patamar: boas classificações escolares;
concluir um curso; chegar à celebração de um sacramento. Encontramos,
frequentemente, esta perspetiva estática de educação. A educação, porém, é
dinâmica, é aprender a caminhar, a progredir, a crescer continuamente para a
plenitude. Fazer caminho é dar passos, treinar ritmos, aprender com as novas
experiências de cada idade, pois o caminho faz-se caminhando. Cada etapa
precisa de ter continuidade, orientar para novas etapas, sem perder de vista a
meta – o desenvolvimento pleno e integral. Fixar-se numa etapa é instalar-se, é
deixar de crescer, de olhar para o futuro e enfraquecer no compromisso de o preparar.
O objetivo que todos procuramos na
vida é a felicidade. E onde a encontramos? Como muitas vezes repetiu, de forma
viva, o Papa Francisco nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) em Cracóvia
(julho 2016), a felicidade não está no sofá e nos videojogos mas em fazer
caminho que abra novos horizontes à vida e nos leve a testemunhar a
misericórdia aos mais pobres e débeis: “não
viemos a este mundo para vegetar, para fazer da vida um sofá que nos adormeça;
viemos para deixar marca. É muito triste passar pela vida sem deixar uma marca.
Mas quando escolhemos a comodidade, confundindo felicidade com consumo, então
perdemos a liberdade”.
2. Educar é propor referências
Para fazer caminho precisamos de
definir uma direção e escolher um guia. Uma das lacunas da educação é a
ausência de referências que permitam o discernimento entre a retidão e os
desvios, entre o bem e o mal.
Na educação cristã temos Jesus
Cristo como referência e guia do caminho novo. Ele veio trazer-nos a vida em
plenitude (Cf Jo 10,10) e esta é a meta que temos em vista alcançar. Ele
chama-nos a segui-Lo e acompanha-nos no caminho, apoiando-nos com a sua graça.
Por isso, o caminho do Senhor está ao alcance de todos. Como afirmou o Papa
Francisco nas referidas Jornadas, “Jesus
deseja aproximar-se da vida de cada um, percorrer o nosso caminho até ao final,
para que a sua vida e a nossa se encontrem realmente”.
A vida exemplar de Jesus é
continuada e concretizada por muitos homens e mulheres que n’Ele encontraram o
paradigma do homem novo e, após esse encontro, tornaram-se melhores. Na
história do cristianismo encontramos uma “nuvem
de testemunhas” (Heb 12, 1) que enriquecem o nosso património de
referências concretas da fé cristã.
Também hoje à nossa volta podemos
descobrir muitas testemunhas admiráveis da fé que, pela sua bondade e retidão,
mostram como o Evangelho é uma força para o bem e uma luz que ilumina na
escuridão. Fixar os olhos em Jesus e naqueles que O seguem e continuamente se
renovam, leva-nos a descobrir as nossas distâncias e fragilidades e a
esforçarmo-nos por superá-las.
Não há caminho para a perfeição
sem esforço e sem luta, não há opções pela verdade e pela novidade cristã sem
renúncia aos impedimentos e obstáculos que moram em nós e dificultam o
progresso na luz e na perfeição.
Na matriz cristã, a educação
encontra uma ligação com a realidade e um enraizamento concreto na história
humana. Não é proposta de teorias ou doutrinas mas de exemplos de pessoas
concretas e de acontecimentos históricos, de uma memória rica de séculos que
nos ajuda a estar atentos aos sinais dos tempos, a interpretar o presente e
construir um futuro melhor.
3. Educar é promover a fraternidade e a comunidade
Jesus aproximou-se de nós para nos
ensinar a ser próximos uns dos outros. Dedica-nos um amor pessoal e manda-nos
amar o próximo, a pessoa concreta que precisa de nós. A educação cristã tem
necessariamente uma dimensão comunitária, pois Jesus veio ao nosso encontro
para nos congregar como a grande família dos filhos de Deus.
Nesta linha, a educação deve promover
o diálogo e a integração, procurar o que nos une e não o que separa; construir
pontes e evitar ruturas; não se deixar tentar pela mentalidade maniqueísta que
divide a sociedade em bons e maus, julgando como maus “os outros que não pensam
como nós”.
Nas fontes do cristianismo é
constante e veemente o apelo à união, à reconciliação, à paz e ao serviço
fraterno. A divisão e os conflitos são entendidos como uma contradição com a
fé. O grande sinal que identifica o cristão é o amor, a misericórdia, o serviço
aos mais humildes e desprotegidos.
Por isso, devemos alertar contra
todas as propostas que, ainda hoje, criam barreiras e fomentam agressividade.
Se queremos construir um mundo solidário em que todos se sintam acolhidos,
respeitados e integrados temos de rejeitar a indiferença, a agressividade, a
luta de classes, a violência… e cultivar a fraternidade, o diálogo, a
compreensão e as relações cordiais. Assim esclareceu o Papa Francisco aos
jovens: “a nossa resposta a este mundo em guerra tem um nome: chama-se
fraternidade, chama-se irmandade, chama-se comunhão, chama-se família” (JMJ,
2016).
4. Educar é formar agentes de mudança e de transformação social
O pleno desenvolvimento da pessoa
alcança-se também pelo contributo que presta para melhorar a sociedade, pelo
rasto de amor e de paz que deixa no seu meio ambiente. Educar é incentivar a
sonhar um mundo novo, mais justo e fraterno, e a entregar-se, corajosamente, ao
serviço deste sonho.
Como recomendou o Papa em
Cracóvia: “Para seguir a Jesus é preciso ter
uma boa dose de coragem e decidir-se a trocar o sofá por um par de sapatos que
ajudem a caminhar (…) pelas estradas do nosso Deus que nos convida a ser atores
políticos, pessoas que pensam, animadores sociais” (JMJ 2016).
Jesus é o pastor que nos orienta
no caminho que leva à plenitude, à alegria, ao amor e à paz. Oferece-nos o
evangelho para ser o “nosso navegador” no caminho da vida. Ampara-nos com o seu
cajado de pastor, ou seja, com a força da sua graça que ajuda a vencer o mal. É
o verdadeiro mestre de vida que nos transmite a arte de bem viver, é o caminho
para a verdade, para a beleza e para a bondade, para a vida em plenitude.
A luz de Jesus chega até nós, de
forma mais próxima e concreta, através das testemunhas da fé que se guiaram por
Ele e refletem a sua luz para a nossa vida. Entre todas tem um lugar de
especial relevo Maria sua Mãe. Também ela peregrinou na fé e se
entregou ao serviço de um mundo novo. Ao celebrarmos o centenário das suas
aparições em Fátima demos graças a Deus pela sua visita e pela mensagem de
salvação que nos veio trazer e aprendamos com ela, estrela de um novo dia, a
orientar os nossos passos pela luz do evangelho de Seu Filho.
Lisboa, 29 de setembro de 2016