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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

SEMANA DA EDUCAÇÃO CRISTÃ 2016

Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé
Nota Pastoral para a Semana Nacional da Educação Cristã
21 - 30 de outubro de 2016

EDUCAR - PROPOR O CAMINHO PARA UMA VIDA PLENA

A educação integral é essencial para promover o desenvolvimento harmonioso das pessoas e para alicerçar a justiça, a paz e o bem-estar das sociedades. Portanto, é pela educação que podemos preparar um futuro com esperança.
Por isso, educar é uma tarefa gratificante sem deixar de ser complexa e árdua, nomeadamente no nosso tempo. Assim o reconhece o Papa Francisco na Exortação “A Alegria do Amor” em que dedica um capítulo à missão educativa da família (Cap VII: Reforçar a educação dos filhos).
Perante os desafios da sociedade atual, o papel dos educadores (pais, encarregados de educação, professores, catequistas) não pode ser o de controlar ou de resolver todos os problemas mas “gerar processos de amadurecimento da liberdade dos filhos, de preparação, de crescimento integral, de cultivo da autêntica autonomia” (AL 261). Deste modo, “a educação para a maturidade comporta a tarefa de promover liberdades responsáveis que, nas encruzilhadas, saibam optar com sensatez e inteligência” (AL 262).
Perante esta emergência da educação todos temos a missão de colaborar. Em nome da Igreja, apoiados pelo seu rico património espiritual, humanista e moral, queremos dar o nosso contributo, apresentando alguns critérios em ordem a educar para o desenvolvimento pessoal integral e para a participação livre e responsável na construção de uma sociedade justa e fraterna.

1. Educar é pôr a caminho
Educar é conduzir no caminho do bem e da verdade, como concretiza Bento XVI de forma feliz: “Educar significa conduzir para fora de si mesmo ao encontro da realidade, rumo a uma plenitude que faz crescer a pessoa” (Mensagem do dia da paz, 1 de janeiro de 2012, 2).
Deste modo, educar não é apenas atingir uma determinada etapa ou patamar: boas classificações escolares; concluir um curso; chegar à celebração de um sacramento. Encontramos, frequentemente, esta perspetiva estática de educação. A educação, porém, é dinâmica, é aprender a caminhar, a progredir, a crescer continuamente para a plenitude. Fazer caminho é dar passos, treinar ritmos, aprender com as novas experiências de cada idade, pois o caminho faz-se caminhando. Cada etapa precisa de ter continuidade, orientar para novas etapas, sem perder de vista a meta – o desenvolvimento pleno e integral. Fixar-se numa etapa é instalar-se, é deixar de crescer, de olhar para o futuro e enfraquecer no compromisso de o preparar.
O objetivo que todos procuramos na vida é a felicidade. E onde a encontramos? Como muitas vezes repetiu, de forma viva, o Papa Francisco nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) em Cracóvia (julho 2016), a felicidade não está no sofá e nos videojogos mas em fazer caminho que abra novos horizontes à vida e nos leve a testemunhar a misericórdia aos mais pobres e débeis: “não viemos a este mundo para vegetar, para fazer da vida um sofá que nos adormeça; viemos para deixar marca. É muito triste passar pela vida sem deixar uma marca. Mas quando escolhemos a comodidade, confundindo felicidade com consumo, então perdemos a liberdade”.

2. Educar é propor referências
Para fazer caminho precisamos de definir uma direção e escolher um guia. Uma das lacunas da educação é a ausência de referências que permitam o discernimento entre a retidão e os desvios, entre o bem e o mal.
Na educação cristã temos Jesus Cristo como referência e guia do caminho novo. Ele veio trazer-nos a vida em plenitude (Cf Jo 10,10) e esta é a meta que temos em vista alcançar. Ele chama-nos a segui-Lo e acompanha-nos no caminho, apoiando-nos com a sua graça. Por isso, o caminho do Senhor está ao alcance de todos. Como afirmou o Papa Francisco nas referidas Jornadas, “Jesus deseja aproximar-se da vida de cada um, percorrer o nosso caminho até ao final, para que a sua vida e a nossa se encontrem realmente”.
A vida exemplar de Jesus é continuada e concretizada por muitos homens e mulheres que n’Ele encontraram o paradigma do homem novo e, após esse encontro, tornaram-se melhores. Na história do cristianismo encontramos uma “nuvem de testemunhas” (Heb 12, 1) que enriquecem o nosso património de referências concretas da fé cristã.
Também hoje à nossa volta podemos descobrir muitas testemunhas admiráveis da fé que, pela sua bondade e retidão, mostram como o Evangelho é uma força para o bem e uma luz que ilumina na escuridão. Fixar os olhos em Jesus e naqueles que O seguem e continuamente se renovam, leva-nos a descobrir as nossas distâncias e fragilidades e a esforçarmo-nos por superá-las.
Não há caminho para a perfeição sem esforço e sem luta, não há opções pela verdade e pela novidade cristã sem renúncia aos impedimentos e obstáculos que moram em nós e dificultam o progresso na luz e na perfeição.
Na matriz cristã, a educação encontra uma ligação com a realidade e um enraizamento concreto na história humana. Não é proposta de teorias ou doutrinas mas de exemplos de pessoas concretas e de acontecimentos históricos, de uma memória rica de séculos que nos ajuda a estar atentos aos sinais dos tempos, a interpretar o presente e construir um futuro melhor.

3. Educar é promover a fraternidade e a comunidade
Jesus aproximou-se de nós para nos ensinar a ser próximos uns dos outros. Dedica-nos um amor pessoal e manda-nos amar o próximo, a pessoa concreta que precisa de nós. A educação cristã tem necessariamente uma dimensão comunitária, pois Jesus veio ao nosso encontro para nos congregar como a grande família dos filhos de Deus.
Nesta linha, a educação deve promover o diálogo e a integração, procurar o que nos une e não o que separa; construir pontes e evitar ruturas; não se deixar tentar pela mentalidade maniqueísta que divide a sociedade em bons e maus, julgando como maus “os outros que não pensam como nós”.
Nas fontes do cristianismo é constante e veemente o apelo à união, à reconciliação, à paz e ao serviço fraterno. A divisão e os conflitos são entendidos como uma contradição com a fé. O grande sinal que identifica o cristão é o amor, a misericórdia, o serviço aos mais humildes e desprotegidos.
Por isso, devemos alertar contra todas as propostas que, ainda hoje, criam barreiras e fomentam agressividade. Se queremos construir um mundo solidário em que todos se sintam acolhidos, respeitados e integrados temos de rejeitar a indiferença, a agressividade, a luta de classes, a violência… e cultivar a fraternidade, o diálogo, a compreensão e as relações cordiais. Assim esclareceu o Papa Francisco aos jovens: “a nossa resposta a este mundo em guerra tem um nome: chama-se fraternidade, chama-se irmandade, chama-se comunhão, chama-se família” (JMJ, 2016).

4. Educar é formar agentes de mudança e de transformação social
O pleno desenvolvimento da pessoa alcança-se também pelo contributo que presta para melhorar a sociedade, pelo rasto de amor e de paz que deixa no seu meio ambiente. Educar é incentivar a sonhar um mundo novo, mais justo e fraterno, e a entregar-se, corajosamente, ao serviço deste sonho.
Como recomendou o Papa em Cracóvia: “Para seguir a Jesus é preciso ter uma boa dose de coragem e decidir-se a trocar o sofá por um par de sapatos que ajudem a caminhar (…) pelas estradas do nosso Deus que nos convida a ser atores políticos, pessoas que pensam, animadores sociais” (JMJ 2016).
Jesus é o pastor que nos orienta no caminho que leva à plenitude, à alegria, ao amor e à paz. Oferece-nos o evangelho para ser o “nosso navegador” no caminho da vida. Ampara-nos com o seu cajado de pastor, ou seja, com a força da sua graça que ajuda a vencer o mal. É o verdadeiro mestre de vida que nos transmite a arte de bem viver, é o caminho para a verdade, para a beleza e para a bondade, para a vida em plenitude.
A luz de Jesus chega até nós, de forma mais próxima e concreta, através das testemunhas da fé que se guiaram por Ele e refletem a sua luz para a nossa vida. Entre todas tem um lugar de especial relevo Maria sua Mãe. Também ela peregrinou na fé e se entregou ao serviço de um mundo novo. Ao celebrarmos o centenário das suas aparições em Fátima demos graças a Deus pela sua visita e pela mensagem de salvação que nos veio trazer e aprendamos com ela, estrela de um novo dia, a orientar os nossos passos pela luz do evangelho de Seu Filho.

Lisboa, 29 de setembro de 2016