Entre
os adultos, os pais diziam que faziam tudo o que podiam para manter a harmonia
e a boa convivência na cidade, embora todos soubessem que alguns pais diziam
aos filhos coisas como estas: “Se te batem, bate-lhes tu também”... “Não te
juntes com fulano e beltrano”...
Outros
pais tinham mensagens claras de relações solidárias, próximas e afetuosas, com
todos e, entre outras coisas, diziam aos filhos: “Filho, respeita e ama o teu
professor. Ama-o porque o teu pai também o ama e respeita; porque ele dedica a
sua vida ao bem de tantas crianças, que o vão esquecer; ama-o porque te abre e
te ilumina a inteligência e te educa o coração; porque um dia, quando fores
homem, e nem ele nem eu estivermos já neste mundo, a sua imagem aparecerá com
frequência na tua mente ao lado da minha, e então, há de recordar certas
expressões de dor e cansaço do seu rosto de homem de bem, a que agora não dás
atenção e que certamente te causarão pena, mesmo passados trinta anos; e
envergonhar-te-ás, sentirás tristeza de o não ter estimado muito, de te teres
comportado mal com ele.
Ama
o teu professor, porque pertence a essa grande família de professores do ensino
básico, espalhados por todo o país, que são como que os pais intelectuais de
milhões de crianças que crescem contigo; são os trabalhadores mal compreendidos
e mal recompensados que preparam para o nosso país uma sociedade melhor do que
a atual.
Não
ficarei contente com o carinho que sentes por mim, se não sentes também carinho
por todos os que te fazem bem. E, entre todos, o teu professor é o primeiro,
depois dos teus pais. Ama-o como amarias um irmão meu; ama-o quando é justo e quando
te parece que é injusto; ama-o quando está alegre e simpático; e ama-o ainda
mais quando o vires triste. Ama-o sempre. E pronuncia sempre com respeito este
nome «professor», que, depois do pai, é o mais nobre, o mais doce nome que um
homem pode dar a outro homem.”
O teu pai...”
(Edmundo de
Amicis: Corazón. Alianza Editorial, Madrid, 1984, pp. 73-74)